quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As Aves do Caiçara


O sol clareando um dia em um canto de praia, casa modesta que desperta deixando um cheiro de café no ar. Do lar, sai assobiando uma música já desconhecida pelo rádio, chinelos havaianas, calça rota, agasalho velho desbotado e um boné de propaganda amassado na cabeça. No terreiro o galo cantando e acordando as galinhas, o pato, o ganso, o peru e o marreco.

Um passo na frente do outro, segue com um remo apoiado nos ombros. Este canto de mundo é todo o seu mundo. Seu e da araponga, do papagaio, do coleirinha, do tié, do bonito lindo, da saíra, do sanhaço, do sabiá, da andorinha, do bem-te-vi, do tico-tico, da curruíra, do pica-pau, da saracura, do beija-flor, do surucuá e todos os outros que com seu canto enchem de alvoroço a copa das árvores.

Na praia o sol a pino dissolve a névoa da manhã que disfarça o contorno da Serra do Mar e evidencia o rosto marcado pelo vento, sol, sal e tempo. Remando a canoa visita a sua rede e, com as mãos calejadas retira os peixes emalhados. Os bicos da fragata, do trinta-réis, da gaivota, do atobá e do biguá sempre encontram os miúdos jogados ao mar.

Acompanhando as marolas e a remada de volta às areias, as garças sabidas se amontoam no canto da praia para dançar, enquanto esperam os peixes serem limpos e receberem sua parcela.

Lugares assim são poucos e cada vez mais raros, quase um folclore. Com esta cena em mente, recordo-me das palavras registradas no livro: A Ferro e Fogo – A História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira - onde o autor relata as palavras do maior madeireiro do Brasil na década de 70, em que o Sr. Rainol Grecco indaga: “Você já pensou nas suas consequências? A consequência é o lucro!”

Impressionante como as palavras ditas há tanto tempo continuam tão atuais! Deixo aqui o alerta para refletirmos sobre o que mudou, o que ainda vai mudar nas terras tupiniquins e o que faremos para conseguirmos a sustentabilidade que atualmente ouvimos falar.

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