quinta-feira, 3 de março de 2011

Mãe-da-lua

Alguns já conhecem essa história. Particularmente, acho um tanto triste, mas muito interessante. Uma história de amor! Uma readaptação.
" Era uma vez uma moça muito feia, chamada Griselda. Como toda garota, Griselda sonhava encontrar um amor com quem se casaria e teria filhos. Porém, com aqueles olhos vesgos e esbugalhados, aquele nariz enorme e a triste magreza, afastava todos os rapazes de seu caminho.
Contudo, o que Griselda tinha de feiúra, tinha igualmente de bondade. Era uma criatura doce, gentil e afetuosa. Sua voz era suave, e falava de amor.
Certa noite de lua cheia, voltando do trabalho no campo, Griselda ouviu a voz sedutora de um rapaz que estava perdido no breu da estrada, por conta das muitas nuvens que encobriam o luar.
Como tinha um coração de infinita bondade, Griselda foi ajudar o rapaz a encontrar seu caminho. A moça foi tão gentil e delicada que o jovem se apaixonou. De mãos dadas, naquelas estradas escuras fizeram juras de amor e resolveram que se casariam. Estavam completamente apaixonados, mas o rapaz só lhe tinha visto o semblante, que parecia belo.
Quando as nuvens deram passagem aos raios do luar, a estrada se iluminou e o jovem se deparou com uma figura tão feia que se arrependeu do pedido de casamento. Assustado, pediu para que Griselda ficasse por lá o esperando e que ele já voltaria. O escapado noivo virou as costas e seguiu para bem longe.
Griselda, iluminada pela imensa lua, ficou no meio do sertão esperando pelo amado que não voltava, e começou a chorar. Foi então que uma feiticeira surgiu na estrada e perguntou o que tinha acontecido à jovem. Griselda contou tudo para e feiticeira e perguntou se ela não tinha visto seu noivo. A feiticeira riu: - “Esse moço fugiu da sua feiúra! Ele não vai voltar mais!”.
A moça desesperada chorava mais e mais e disse à feiticeira que se tivesse asas voaria em busca do seu amado. O sofrimento de Griselda fez a feiticeira querer ajudá-la e, então, a velha colocou a mão sobre a cabeça da moça e transformou-a em uma ave para que pudesse voar pela noite. E assim, como ave, Griselda voou a noite toda em busca de sua paixão.
Com os olhos acostumados com a escuridão, Griselda escondeu-se em um oco de árvore aos primeiros raios de sol, pois não conseguia enxergar. Todas as noites a ave voava na tentativa de encontrá-lo.
Essa ave (Nyctibius griseus) é chamada de urutau, ou mãe-da-lua, que dorme durante o dia e caça e se reproduz durante a noite. Quando é lua cheia, o urutau canta uma melodia triste, o lamento de uma moça sem seu amor, que repete: “Foi... foi... foi...”.
Texto: Beatriz Lopes

3 comentários:

  1. Parabéns, Beatriz! Confesso que não conhecia essa história. O urutau não faz perceber quanto é rica a nossa biodiversidade! E as espécies, muitas vezes, não são conhecidas apenas por um nome, mas também por histórias pitorescas como essa! E isso não pode ser perdido, tem mesmo é que ser compartilhado! Bjos

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  2. O Eurico Santos (Da Ema ao Beija-flor, pág. 168, 1952) relata outra lenda pitoresca: ao seduzir uma moça (quem sabe não era a Griselda!), o deus Sol a abandona. E ela no desespero para seguir o amante, resolve subir em uma árvore bem alta, mas quando chega ao dossel, é transformada imediatamente em uma ave, que passa a se "lamentar", através da aterrorizante vocalização, sempre que anoitece, ou seja, que o "amante mergulha nos confins do horizonte".

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  3. Cadê vocês??? Saudades das postagens do BW São Sebastião...

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