terça-feira, 16 de março de 2010

E o Passarinho Voou.

É engraçado como as pessoas que gostam de passarinhar têm uma fixação enorme por isso! Eu, por exemplo, quando ando na rua sempre estou de olho nos emplumadinhos que ficam sassaricando. Por vezes fico parado na rua e as pessoas que passam por mim até me perguntam o que estou vendo. Admito que em alguns momentos fico um tanto constrangido, tenho a impressão que alguns me olham e pensam: “Tadinho, deve ser meio pancadinha da cabeça”. Mas tudo tranqüilo.


E nesta tara maluca em observar aves descobri o fabuloso mundo Wikiaves, que mudou minha vida. Poder ver o que outros observadores estão vendo em todo o território brasileiro, trocar informações, tirar duvidas sobre a identificação de uma espécie... Realmente não tem como listar tantas possibilidades boas desta ferramenta virtual.


Como bom passarinhador que sou, em uma tarde no trabalho - meio que de bobeira - lá estava eu fuçando no Wikiaves, vendo as últimas espécies fotografadas em São Sebastião, quando me deparo com uma foto tirada pelo colega Mathias Singer, no dia 21/07/2007, de um gaturano-verdadeiro (Euphonia violacea) com uma anilha vermelha.



Foto tirada pelo observador de aves Mathias Singer.


(um breve histórico)


Tive a oportunidade de trabalhar na Riviera de São Lourenço com monitoramento de avifauna, realizando o anilhamento das aves. Os indivíduos capturados, depois do procedimento de biometria e anilhamento, eram soltos na Fazenda Acaraú, área devidamente homologada pelo IBAMA como local de soltura, distante um pouco mais de 2km do local de captura.


As aves capturadas na Riviera recebiam uma anilha amarela, e as capturadas na área de soltura recebiam, por sua vez, uma anilha vermelha. Em ambos os casos os indivíduos capturados recebiam uma numeração independentemente da cor da anilha. Dessa forma é possível saber o local em que o espécime foi marcado, logo de cara.


(voltando a historia)


Quando vi naquele momento a anilha vermelha, me lembrei imediatamente de quando comecei a ter gosto em observar aves, o que aprendi com o Mestre Luiz Sanfilippo (aquelas coisas de quem só passou milhares de horas no mato sabe), pessoa que eu aprendi admirar e respeitar. Mas voltando ao assunto e deixando o saudosismo de lado, aquela anilha foi colocada na Fazenda Acaraú.


Agora muitos podem estar se perguntando “mas o que tem de tão importante nisto?”. Primeiramente, esta historia mostra a importância do trabalho de anilhamento e, neste caso, a dispersão do indivíduo. O gaturamo percorreu cerca de 27km do ponto capturado e o ponto registrado e,assim, podemos notar o tamanho da sua área de abrangência.


Com estas informações podemos brincar um pouco com os números. Se extrapolarmos isto para um raio de 27 km, teremos uma área de 169km de circunferência, ou seja, o indivíduo possui uma área territorial de influência com cerca de 2.290km².



Linha reta amarela: distância entre o ponto de captura e o ponto de registro da ave.


Este foi só um exemplo de como o anilhamento é importante para compreendermos melhor vários dos aspectos biológicos de uma espécie. A princípio as anilhas eram utilizadas apenas para saber quais eram as rotas de migração, e hoje as utilizamos para obter informações diversas, por exemplo: tempo de vida, dinâmica populacional, comportamento, estrutura social, sobrevivência, sucesso reprodutivo, toxicologia, manejo, monitoramento ambiental.


Aproveito a oportunidade para deixar uma mensagem: caso você encontre uma ave anilhada, ainda que esteja morta, anote o código (letra e número), a data, local de encontro e avise ao CEMAVE – Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres. Envie sua informação, ela é muito importante e, de quebra, você estará recebendo em sua casa um Certificado de Agradecimento com todas as informações sobre a ave que foi encontrada e anilhada.


Para entrar em contato:

ICMBIO/CEMAVE – BR-230 km 10, Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, s/n CEP 58310-000, Cabedelo-PB – Fone/fax: (83) 3245-5001

http://www.icmbio.gov.br/cemave/

Um comentário:

  1. Caramba, impressionante este registro de deslocamento desta Euphonia! Principalmente considerando-se que a área de vida de passeriformes pequenos e não-migratórios que já foram estudados não passa de um par de dezenas de hectare... Por isso acredito que este deslocamento não deve ser rotineiro, mas esporádico - quem sabe? Mesmo assim impressionante... Será que ave era jovem quando foi anilhada na Riviera? Parabéns pelo blog!

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