quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Festa no Céu

As aves sempre foram usadas como personagens de lendas por serem observadas em todos os lugares do planeta, e também por encantarem as pessoas com suas cores e acrobacias aéreas.

No Natal fui visitar minha família no interior. Passarinhei um pouco por lá, como de costume, mas a foto mais legal dos bicho do sítio neste Natal foi de um sapo-cururu (Rhinella icterica) que tinha caído na piscina quase vazia da minha avó. Depois do resgate, conseguimos uns belos registros do bichinho, mostrando todas as verruguinhas nas costas dele, o que me fez lembrar do conto de Luís da Câmara Cascudo, "A Festa no Céu", alguém se lembra?
Diz a história que entre os bicho da floresta espalhou-se a notícia que haveria uma grande festa no céu. Dado o lugar do evento, apenas as aves seriam convidadas e, com isso, ficaram tão animadas que não falavam de outra coisa, causando inveja aos outros bichos.

Um sapo espertalhão que queria muito participar da festa no céu começou a dizer para todos que também tinha sido convidado, o que causou riso nos outros animais. "Imaginem só o sapo pesadão, não consegue nem correr, que dirá voar até o céu!". E por muitos dias o sapo foi motivo de gozação na floresta.

Depois de muito pensar, o sapo formulou um plano. Horas antes da festa procurou o urubu. Conversaram muito e se divertiram com as piadas do sapo. Já quase de noite o sapo se despediu do amigo, porém, pulou a janela da casa do urubu, e escondeu-se dentro da viola dele.


Urubus (Coragyps atratus) conversando sobre o sapo. Foto: Beatriz Lopes

Chegada a hora da festa, o urubu pegou sua viola, amarrou-a em seu pescoço e vôou em direção ao céu. No salão, o sapo espiou da viola um momento em que ninguém o visse saindo e deu um pulo para fora. As aves não acreditavam em ver o sapo no céu, e ele dançou a noite toda! No final da festa, o sapinho deu um jeito de voltar para a viola do urubu e lá adormeceu.

Sapo-cururu (Rhinella icterica) Foto: Dante Costalonga

Já era de manhã quando o urubu voava de volta para a floresta, e percebeu que sua viola estava pesada e que tinha alguma coisa rolando de um lado para o outro dentro dela. Espiou dentro do instrumento e viu e viu o sapo todo folgado dormindo. O urubu ficou tão bravo que virou a viola e fez o sapo cair em cima das pedras do leito de um rio. Felizmente o sapo não morreu, mas nas suas costas ficaram as marcas daquela queda, do dia da festa no céu!